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Curiosidades

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A História do Contrabaixo, parte XXIV
O Legado De Vinnie Fodera - Graças à obstinação de um homem pela perfeição absoluta, a criação dos poderosos Fodera apontounovos rumos na evolução dos graves.
 
Nilton Wood
Redação TDM
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Se você, assim como eu, é fã do lendário baixista Victor Wooten, já deve ter reparado no incrível instrumento usado por ele no qual ele consegue obter uma das mais extraordinárias sonoridades em nosso universo dos graves.

Claro que, por trás do instrumento, existe o homem. Mas é óbvio que bons instrumentos são necessários, não apenas para criar e explorar novas sonoridades, como também para demonstrar que a evolução e a criatividade dos construtores não têm limites. E, quando falamos sobre limites, um dos baixos que primeiro nos veem à mente são os Fodera, considerado por músicos, construtores e historiadores como uma das maiores criações da história do contrabaixo.


E isto se deve a obstinação de um homem que, sem querer, descobriu que sua vocação era construir baixos elétricos.

Em 1975, Vinnie Fodera era um estudante da Escola de Artes Visuais de Nova York, passando uma parte do seu tempo desenhando instrumentos musicais na margem do seu caderno de aula. Ele tocava guitarra desde os seus 14 anos e já tinha certa identificação com a construção de instrumentos.

No livro American Basses, de autoria de Jim Robert (ex-editor da prestigiada revista Bass Player e um dos seus fundadores), Vinnie conta, em uma entrevista concedida à rede CBS americana, como tudo começou: “Eu tinha um trabalho em Wall Street que consistia em entregar documentos. Foi quando, um dia, meu departamento me deu um envelope contendo vários documentos para serem entregues no banco perto do World Trade Center. Como o local era longe, resolvi descansar perto a uma vitrine que tinha uma propaganda sobre a abertura de novas turmas na Escola de Pesquisas Sociais, em Manhattam, recrutando alunos para aprender como construir violões clássicos. Vendo isto, decidi participar daquela classe”.

Stuart Spector e Ned Steinberger: os primeiros passos

O jovem Vinnie iniciou suas aulas e meses depois construiu seu primeiro violão, sob a direção de Thomas Rumphrey. Um dos seus colegas de classe era um cara esquisito chamado Alan Redner, que mencionou ser amigo de um famoso luthier: Stuart Spector. “Alan e eu fomos até a luthieria do Stuart, pois já tínhamos ouvido falar muito bem do seu trabalho. Era o ano de 1977 e Ned Steinberger já fazia parte de nossa turma. Na primeira visita, apesar de atencioso, ele não nos ajudou muito na parte didática, pois queríamos fazer várias perguntas a ele”, contou o músico.

“Na verdade, ele só anotou nossos nomes, sendo que, a seguir, fomos embora. Para minha surpresa, alguns dias depois, ele me ligou oferecendo um emprego na sua luthieria para cortar blocos de madeira para a fabricação dos corpos dos instrumentos. Não era grande coisa, mas eu aceitei, pois senti que só assim eu poderia obter mais conhecimento com relação à construção dos instrumentos. Junto com Stuart e seu sócio Alan Charney, o jovem Vinnie permaneceu na Spector Guitars durante três anos”, completou.


Ken Smith: com a bondade de um professor

Em 1980, o já conhecido construtor Ken Smith realizou uma parceria com a Spector, para construir uma nova linha de instrumentos desenhada por ele. Ken notou a força de vontade de Vinnie e o contratou também para ajuda-lo no intricado processo de laminação das peças do seu novo modelo.

Muito amigos de Fodera acham que, a partir daquele instante, os baixos Fodera começaram a existir, pelo menos na cabeça do esforçado funcionário. Quando as coisas se tornaram difíceis para a Spector, Ken Smith contratou a empresa para produzir seus baixos.

Foi nesta época que Vinnie alugou um pequeno espaço no Brooklin para começar a trabalhar em alguns componentes de instrumentos em seus horários vagos, pois sua principal atividade era o seu trabalho com Smith: “Eu levava minhas peças para o Ken dar uma olhada, e, com a bondade de um professor, ele me ensinava o quê eu tinha que corrigir e elogiava aquilo que acertava. Jamais vou esquecer aqueles tempos”.

Fodera Guitars

Com a sua oficina já rendendo alguns lucros em manutenção, Vinnie sonhava em ter seu próprio negócio. Depois de mais um ano com Smith, o jovem Fodera estava ensaiando iniciar seu próprio voo solo, quando um dia, surgiu em sua vida um cara chamado Joye Lauricella.

Joey estava procurando um luthier para acompanhar as gigs de algumas bandas em início de carreira. Quando ele conheceu o jovem Vinnie, foi uma empatia imediata. Além do mais, o nome Fodera já estava sendo conhecido pelos funcionários locais por ser um dos responsáveis pela construção dos baixos da Ken Smith.

Para subsidiar seus custos, ele entrou em um acordo com Ken para trabalhar por meio período na oficina, o que sobraria tempo para se dedicar a seu projeto pessoal. Assim, em março de 1983 foi fundada a Fodera Guitars, uma sociedade da qual participava Joye Lauricella. Enquanto Fodera se encarregaria da construção dos instrumentos, Joye seria o encarregado da administração e vendas.

Victor Wooten e Anthony Jackson

O primeiro modelo fabricado foi o Monarch Deluxe, em 1983. Se você notar a foto ao lado, a parte inferior do tampo dianteiro esta totalmente desgastada, em virtude da técnica utilizada por Victor Wooten.

Além dele, um novo músico resolveu pedir a Fodera a construção de um novo instrumento, um projeto que ele vinha sonhando há vários anos. Seu nome era Anthony Jackson. Quando se trata de Jackson, só cabem superlativos: genial, dono de uma técnica extraordinária que consiste igualmente no uso do polegar (na função de pizzicato) e visionário, pois foi o responsável pelo renascimento do baixo de seis cordas.

Jackson começou a tocar baixo em 1965, aos 13 anos. Em 1970 já era considerado um dos mais conceituados músicos de estúdio americanos. Inquieto e sempre à procura de novas sonoridades, o jovem baixista vivia acoplando diversos pedais em seus instrumentos para criar sonoridades diferentes. Na época, ele usava um Fender Precision Bass, mas já estava pensando na criação de um modelo próprio.

“Como eu usava a técnica de polegar para tocar as cordas, eu tinha um problema: meu polegar era muito grande e me atrapalhava muito em meus arranjos”, contou o músico, em uma entrevista a revista Bass Player americana. Na construção deste novo modelo, Jackson também pediu que este novo instrumento viesse dotado de mais duas cordas: a tradicional Si, e a corda Do, localizada uma quarta abaixo da corda Sol.

O primeiro modelo ficou pronto em 1975. O próximo projeto de um baixo de seis cordas coube a Ken Smith, ficando pronto em 1981. Um segundo instrumento foi construído por Smith três anos depois, com uma considerável distância entre as cordas. Finalmente, com este novo projeto, Jackson conseguiu compatibilizar uma exata distância entre as cordas larga o suficiente para que seus polegares pudessem tocar as cordas sem perigo de erros ou resvalos, prejudicando o arranjo.

Foi nesta época que ele conheceu Vinnie, ainda como assistente de Smith. Atualmente, Anthony possui nove baixos com sua assinatura. Interessado em possuir um? Prepare-se: o modelo mais barato custa em torno de US$ 10.000,00, ou tente ser endorser da marca. Não custa tentar!
 
 fonte: territoriodamusica.com